Este romance nasce do desejo de dar voz a duas histórias paralelas que se entrelaçaram no final do século XIX, quando o Brasil vivia um dos momentos mais contraditórios de sua história. De um lado, o fim da escravidão, abolida por um decreto que proclamava a liberdade, mas que, na realidade, deixou milhares de homens e mulheres sem terra, sem trabalho, sem direitos concretos. Do outro, a chegada de milhares de famílias italianas, sobretudo do Vêneto, atraídas por promessas de terra e redenção, destinadas a se tornar nova força de trabalho nas plantações de café. O encontro desses mundos – os ex-escravizados ainda prisioneiros de condições de exploração, e os novos migrantes, livres no papel, mas submetidos a contratos duríssimos – representa a chave deste relato. Não se trata apenas de uma história de fadiga, mas também de dignidade, de esperança e de solidariedades inesperadas. Escolhi narrar essa experiência entrelaçando realidade histórica e ficção narrativa, para dar voz não apenas aos documentos e arquivos, mas sobretudo aos olhares, aos sentimentos e às emoções de quem viveu aquela época. Seja lido na Itália ou no Brasil, meu desejo é que este livro ajude a recordar que toda migração, toda emancipação, toda conquista de liberdade é sempre um caminho inacabado, alimentado pela coragem e pelo sofrimento de quem o percorre