Quem olha o rio do Peixe, a partir do sítio das uvas dirá: Lá vem o rio do Peixe, serpenteando feio cobra na areia quente. Não imagina que ele vem de tão longe e já percorreu aproximadamente 200 km até ali, e ainda terá que correr 120 km até chegar ao seu destino final: o mar. A sua trajetória majestosa até chegar ali, ele precisou desviar de encostas e se ajustar no seu leito. Ele veio descendo por entre encostas, tendo em muitos trechos pouca profundidade devido o desmatamento de suas encostas que protegiam o seu leito do carreamento de sedimentos para dentro do seu leito. Ele reclama dos desmatamentos de suas matas ciliares, mas ninguém o ouve. Sobrevie sem proteção de suas margens. O rio do Peixe pede socorro: a vegetação foi toda desmatada e destocada para o plantio de monoculturas, soja,e outras monoculturas. Na paisagem do ambiente que compõe o entorno do Sítio das uvas Tangará, pode-se ver o contorno do Rio do Peixe, que vem serpenteando, acompanhando o caminho sinuoso do rio, e passa pela curva em forma da letra "D", e contorna a encosta e retoma o seu curso normal, e segue o seu rumo, levando as suas águas para o mar que está a cerca de 130 km. A cidade de Tangará vai ficando para trás, o rio do Peixe continua o seu curso normal, levando lembranças e saudades para longe dali. Vendo tanto descaso com a sua beleza, a sua vontade é parar e chorar. Mas ele não tem esse direito. O jeito é ele ir correndo como pode para chegar logo ao seu destino final: o mar profundo Poucos produtores rurais das regiões por onde o rio do Peixe passam, ele pouco vê sensibilidade daqueles produtores rurais. Eles fazem de conta que desconhecem as normas ambientais para não poluir os rios e seus afluentes, não desmatar as matas ciliares. Eles continuam usando indiscriminadamente agrotóxicos e poluindo as águas que eles bebem. Nós, os parreirais, ficamos nos perguntando: até quando o rio do Peixe estará vivo trazendo de longe as águas, refrigerando o ar, amenizando o calor por onde ele passa. Lá vai o rio do Peixe, apressado para levar suas águas para o mar profundo, lá vai ele, feito um carro de boi que vai pela estrada. Deve levar muita tristeza e poucas alegria. Os tangarás também andam tristes. Eles não sabem até quando aquelas regiões terão imbuias frondosas que servem de palcos para eles cantarem. Foi ali que a Suzana nasceu — filha única, olhos azuis como o céu de Santa Catarina, alma marcada pelo capim molhado e pelo canto do tangará-seresteiro. Quando ela nasceu, ali, a terra era mais que fértil, e as uvas cresciam em variedades, exalando o cheiro de uva madura no ar — Niagara, Isabel, Bordô, Cabernet Sauvignon. Suzana e o Maximiano são as esperanças dos tangarás de ser feito alguma coisa para aquelas matas não sejam derrubadas e o rio do Peixe não morra. Porque do jeito que os desmatamentos são feitos, logo não terá água em Tangará. E as uvas que são doces, sem o rio do peixe, a terra estorricará e os olhos d´água do lago das rosas secarão e as tilápias e carpas morrerão. Maximiano — seu grande amor e prodígio da agronomia com QI-148 — compartilha não apenas afeto, mas uma vocação pela lavoura. Doutor aos 18 anos, ele é guardião da sabedoria do avô e dos parreirais centenários, onde uvas como Niagara, Bordô, Cabernet Sauvignon crescem entre trepadeiras fortes ajudado pelo cotejamento das mangueiras para molhar o solo generoso. As colheitas entre janeiro e março são celebrações da fé dos viticultores. Suzana tinha na beleza de uma diva, mas misteriosamente, ela sempre esteve envolvida somente com dois homens na sua vida toda: Mariano e Hudson. Depois que o Mariano morreu, ele a contou que em outras vidas ela fora a mãe dele e do Hudson. Ela sofrera a maior dor de uma mãe: ver o filho matar o irmão. Ela entendia a razão da razão de o Hudson ter se casado com ela três vezes; e o Mariano ter se casado com ela duas vezes. Em Filha da Terra, Herdeira do destino, pode-se ver que o homem continua tentando ser Deus.