Vivemos em uma sociedade que valoriza o vencedor. Ídolos são aqueles que superaram o que parecia improvável e atingiram a glória. Não existe um herói que tenha perdido. Para aqueles que não provaram os louros da conquista, a história não reserva mais do que a nota de rodapé. São satirizados, párias. Os relatos dos fatos nunca serão feitos pelo ponto de vista deles. Este livro é uma tentativa de subverter essa lógica cruel. Não interessa aqui falar daqueles que vieram, viram e venceram. Para esses, já existem diversas publicações, a grande maioria louvando suas realizações. Todos os personagens aqui retratados chegaram muito perto dessa glória, mas não puderam transpor a linha que separa os ídolos dos perdedores, pois nossa sociedade nunca permite o meio-termo. O intuito desta obra é justamente trazer à luz o esforço desses personagens para chegar até esse limite do qual não conseguiram passar. É mostrar o quão difícil foi atingir esse ponto, quantas barreiras tiveram de ser superadas. A intenção principal deste livro é não permitir que pessoas sejam relegadas ao esquecimento apenas por não terem obtido a glória máxima. No caso específico de “Na Lona – Histórias de Brasileiros que Ficaram Perto da Glória no Boxe”, os retratados são alguns dos maiores pugilistas da história do Brasil, aqueles que mais perto chegaram do topo na modalidade. Para poder construir essas histórias, a primeira providência é apresentar os personagens não como boxeadores, pois suas lutas não se resumiam aos ringues. Na vida pessoal, tiveram também de transpor barreiras. Essa faceta, muitas vezes esquecida quando se trata da carreira de um atleta, é resgatada neste livro. A tentativa aqui é de trazer perfis biográficos de cada um desses pugilistas. Num país como o Brasil, onde a modalidade é pouco popular, chegar até o limite que essas pessoas chegaram deveria ser encarado como motivo de orgulho, pois o fizeram sem o apoio de que necessitavam. O boxe é visto, muitas vezes, como uma modalidade bárbara. Não será feita, aqui, apologia da violência. De fato, o esporte é bruto. Mas os atores deste espetáculo não são animais, como muitos gostam de tachá-los. São pessoas que se dedicaram a uma luta muitas vezes inglória e com biografias interessantes, que são trazidas aqui. Talvez o leitor se espante ao não ver aqui relatadas as histórias de Eder Jofre e Acelino “Popó” Freitas, os dois maiores pugilistas da história do Brasil. Foi uma escolha do autor. Deles, já se falou muito. Além do que ambos atingiram a glória, foram campeões mundiais, enriqueceram e ganharam projeção. A intenção do livro é justamente resgatar os grandes que não conseguiram chegar a esse ponto, que foram esquecidos. Por essa razão, Miguel de Oliveira, que também foi campeão mundial, está perfilado no livro. Sim, ele atingiu a glória máxima esportiva, ainda que por uma luta apenas, mas pessoalmente sentiu o abandono popular quando não estava mais por cima. Experimentou a fama e o esquecimento. Ele também merecia ser trazido de novo à luz. Não é a intenção deste livro tratar os personagens como perdedores por não haverem atingido a glória, que pode ser esportiva ou pessoal. Muito pelo contrário. A principal mensagem contida aqui é o fato de que todos eles, cada um a seu modo, foram vencedores. E não podiam ficar esquecidos. Se depender desta obra, não serão.